Estou lançando pela Editora Canção Nova o livro intitulado “Educar para as Virtudes Humanas” . Com este livro, tenho o desejo de proporcionar ao leitor uma reflexão sobre o que são virtudes, como distingui-las e como aprimorá-las em nossa vida, além de ajudar-nos a compreender qual o papel dos pais, dos educadores e da Igreja nesse processo de crescimento espiritual.
Ao lermos o capítulo 1 do Evangelho de Lucas, que relata todas as situações em torno da concepção, escolha do nome e circuncisão de João Batista, vemos que Zacarias, seu pai, fica mudo até anunciar o nome do filho, e também o temor e comentários dos vizinhos acerca do futuro da criança: “Todos os que ouviram a notícia ficavam pensando:‘Que vai ser este menino?’De fato, a mão do Senhor estava com ele” (Lc 1,66).
Este questionamento que o povo fazia sobre João Batista é o mesmo que todos nós fazemos quando nasce um bebê. O desenvolvimento de uma criança e a formação de sua personalidade e de sua fé são processos contínuos e desafiadores para a própria pessoa e para aqueles que estão à sua volta: “O que será deste menino, desta menina?”. Ser um homem e uma mulher equilibrados, constantes, estruturados como pessoa, na fé e na graça, é uma tarefa difícil que exige “educar-se” e “querer”. Ser virtuoso é dom de Deus, mas também é construção humana e exige uma atitude interior da vontade, em conformidade com as interferências externas e a educação.
A descoberta do sentido da palavra virtude e da pessoa virtuosa não é tarefa fácil. Muitas incertezas e dúvidas circulam em nossa sociedade e em nossa cultura, e muitas imagens distorcidas são veiculadas nos meios de comunicação social, dificultando a compreensão do significado verdadeiro do ser virtuoso. Como se tornar virtuoso e produzir os frutos do Espírito em uma sociedade em que imperam outros ideais e táticas para ganhar mais dinheiro, subir na escala social, promover-se, ter mais bens e mais poder sobre os outros? O que significa ser virtuoso em nossa sociedade moderna?
Precisamos de uma educação ética baseada mais na atração que na obrigação, pois esta linguagem fala mais diretamente aos homens e às mulheres do nosso tempo, especialmente aos jovens. Não podemos confundir educação com a rigorosa observância de certo número de regras positivas (leis) e, sobretudo, negativas (proibições).
A aprendizagem de uma vida virtuosa é um processo de dentro para fora nas pessoas de boa vontade, que visa formar sua maneira de pensar, decidir, agir no mundo e comunicar-se com os outros; portanto, é imprescindível que o indivíduo adquira o hábito de agir bem segundo todas as virtudes morais. A pessoa humana é sujeito responsável por seus atos e por seu comportamento tanto perante a sua própria consciência quanto perante os outros.
A pessoa que ainda não se abriu às virtudes ou que não é educada para as mesmas não está em condições de julgar retamente o que é o bem e o que é melhor para si mesmo.
Educar moralmente não significa, pois, prescrever uma “receita” sobre o que é justo fazer em cada circunstância particular, mas ajudar o outro a amadurecer as virtudes éticas e, sobretudo, a sabedoria, com que sua consciência poderá orientar-se em todas as situações, inclusive as imprevisíveis. Na educação para as virtudes, não existe uma receita a qual basta seguir para formar uma pessoa desta ou daquela forma. A pessoa é um projeto, marcado por heranças genéticas, mas existe também o contexto cultural no qual nasce e terá de se realizar.
A palavra “virtude” tem sido cada vez mais menosprezada na sociedade moderna, e algumas pessoas chegam até mesmo a atribuir-lhe um sentido pejorativo, visando depreciar quem ainda a valoriza.
Afirmamos ainda que ser virtuoso também é uma tarefa a ser desenvolvida. As virtudes pertencem à intimidade das pessoas, expressam-se na práxis de cada um, crescem e criam raízes por ela. Ninguém nasce com uma coleção de virtudes feitas, de modo que o futuro de uma criança sempre repete a pergunta aberta: que será este menino ou menina? (cf. Lc 1,66). Mesmo em se tratando de virtudes infusas, dadas por Deus, a comunicação destas por parte Dele não garantem, por si, que as sementes lançadas caiam em terra boa e produzam os frutos esperados (cf. Mt 13,23).
Deus é o criador, o artista que não se repete na virtude dos homens que cria. Deus não usa de modelos comuns nem trabalha com linha de produção. Sua originalidade se expressa na unicidade singular de cada pessoa, também na configuração de suas virtudes. Santos, sejam grandes, sejam pequenos de cada dia, nunca são iguais nem uniformes. O ser humano deve aceitar humildemente o caminho da presença de Deus (cf. 2Cor 12,7-9).
Nesta obra de fortes bases teóricas, apresento as principais virtudes humanas e convido ao leitor a avaliar sua postura em relação a elas, auxiliando-o a descobrir como trazê-las para nossa vida e para a de todos que nos cercam.
Padre Mário Marcelo é mestre em Zootecnia pela Universidade Federal de Lavras – MG (UFLA-MG). Licenciado em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque, SC (FEBE). Bacharel em Teologia pela Faculdade Dehoniana, Taubaté, SP. Mestre em Teologia Prática (núcleo Moral), pelo Centro Universitário Assunção, São Paulo, SP. Doutor em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana, Roma/Itália. Autor e assessor na área de Bioética e Teologia Moral. Professor da Faculdade Dehoniana, Taubaté, SP e do Instituto de Teologia Bento XVI, Cachoeira Paulista, SP.
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Fonte: Canção Nova
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