quinta-feira, 13 de março de 2014

O que o Papa Francisco herdou dos jesuítas?


A Aleteia entrevistou o Pe. Miguel Yáñez, sacerdote jesuíta que teve Bergoglio como diretor espiritual, formador e depois colega de trabalho.

Neste dia especial, em que comemoramos um ano de pontificado do Papa Francisco, a Aleteia entrevistou o Pe. Miguel Yáñez, sacerdote jesuíta, professor de Teologia Moral na Universidade Gregoriana, que teve Bergoglio como diretor espiritual, formador e depois colega no Colégio Máximo dos jesuítas.

O que significa, para a Companhia, ter um papa jesuíta?

Para a Companhia de Jesus, ter um papa jesuíta é embaraçoso. Por um lado, sua popularidade colocou também a Companhia no centro da atenção dos fiéis e do público em geral. Por vezes, na sua história, a Companhia teve uma aura um pouco misteriosa: já falaram tantas coisas dos jesuítas, até a expulsão dos reis Bourbon e a supressão por um Papa.

Após o Concílio Vaticano II, muitos jesuítas se tornaram um incômodo para os governantes devido às suas denúncias de injustiças, e alguns deles acabaram sendo mártires. Mas também no interior da Igreja, alguns jesuítas tiveram uma atitude crítica em relação à hierarquia e ao magistério. Mas hoje, no entanto, o próprio Papa é jesuíta.

A Companhia teve a surpresa de ver um filho seu como chefe da Igreja pela primeira vez na história. É uma novidade deste tempo que deu um impulso para continuar a caminhada.

Os jesuítas foram beneficiados pela eleição do Papa Francisco?

Na minha cidade de origem, Mendoza (Argentina), o movimento na igreja dos jesuítas cresceu de modo exponencial. Mas não acredito que isso aconteça somente nas igrejas dos jesuítas. O Papa Francisco despertou o sentido religioso de tantas pessoas, que, pelo menos no meu país, as igrejas ficaram lotadas.

Em relação às vocações nos seminários dos jesuítas, ainda é muito cedo para verificar um crescimento. Hoje, a vocação é fruto de um processo que exige tempo para o discernimento e o amadurecimento.

Podemos dizer que a cultura do encontro e o andar nas “periferias do homem”, tão mencionados pelo Papa, são características dos jesuítas?

De certa forma, sim, mas a formulação é original do Papa Francisco, desde que era arcebispo de Buenos Aires. Em uma das primeiras entrevistas que ele deu a uma revista, Francisco falou da “cultura do encontro”, da necessidade de proximidade, em uma sociedade como a nossa, dividida pelas ideologias e pelo terrorismo dos guerrilheiros estaduais e de esquerda.

Por outro lado, o seu estilo pastoral já era muito voltado aos subúrbios, aos pobres, desde que era reitor do Colégio Máximo, em São Miguel, e desde a fundação da Paróquia do Patriarca São José, na periferia.

É possível identificar no Papa Francisco alguns traços característicos da figura de Santo Inácio?

Francisco tem uma grande simplicidade e profundidade de espírito, uma aproximação cordial,  traços que também eram característicos de Santo Inácio na relação com os jesuítas, com as pessoas em geral e com o clero. Isso se vê na maneira de celebrar a Eucaristia, uma simplicidade que penetra o mistério para transmiti-lo com uma grande transparência e luminosidade.

E quais são os "traços jesuíticos” que mais distinguem o Papa?

Antes de tudo, ele é um contemplativo em ação, ou seja, um homem imerso em uma grande atividade, mas capaz de se manter na presença de Deus e de descobri-la no próximo, nos que estão ao seu redor.

É por isso que, também em meio à multidão, o seu olhar é capaz de individualizar quem sofre, quem está doente ou mais vulnerável, mais necessitado, e o faz parar para se aproximar dessas pessoas e oferecer-lhes gestos de ternura e compreensão. 

Fonte: Alateia

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