Os livros Dai-lhe vós mesmo de comer e Se eu tivesse uma câmera digital…, de autoria do arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger,scj, já estão disponíveis. Os interessados podem adquirir os exemplares nas livrarias Paulinas (Avenida Sete de Setembro e Piedade) e na CNBB Regional Nordeste 3 (Cúria Bom Pastor – Garcia).
As obras abordam aspectos da vida cristã e trazem reflexões sobre cristãos e a sociedade. “O sal não pode ser percebido na comida, mas sua presença a transforma. Assim deve ser a ação do cristão no mundo da política, da economia, das artes, da indústria, da universidade etc.: pode acontecer de ninguém notá-la, mas, por causa dela, o mundo é melhor, mais justo e fraterno”, escreve Dom Murilo no livro Dai-lhes vós mesmos de comer.
O Arcebispo de Salvador escreve semanalmente para vários jornais e revistas de alcance nacional. Dom Murilo também é autor de outros livros como: Um mês com Maria; Alegre-se: Deus é Amor; Apascenta Minhas Ovelhas; entre outros. Mesmo com todas as atribuições, Dom Murilo encontra tempo para, através dos seus textos, falar de Deus de uma forma simples e clara. Num bate-papo com a equipe do jornal São Salvador, ele contou um pouco da experiência que faz como escritor. Acompanhe a entrevista!
São Salvador – Seus artigos sempre tratam de temas do cotidiano. Podemos dizer que a reflexão sobre o dia a dia é o seu tema favorito?
Dom Murilo - Sim, e me explico: são editados muitos livros teológicos; isso é uma riqueza para a nossa Igreja e para a vida dos fieis. Vejo, contudo, uma grande necessidade: a de traduzir reflexões teológicas para a vida de cada dia. Ou, dito com outras palavras: pergunto-me frequentemente como ajudar as pessoas a perceber os sinais de Deus em suas vidas? Como responder, a partir da própria vida, aos apelos de Deus? Sinto que é minha missão, como pastor, a de ajudar as pessoas a descobrir que, de formas por vezes inesperadas, concretiza-se a promessa de Jesus: “Eis que estarei convosco todos os dias…” Sim, ele está presente em nossa vida e manifesta-se de muitas maneiras; é preciso, contudo, saber vê-lo. E é aqui que entra o meu papel, ao escrever: ajudar o leitor a perceber isso…
São Salvador – O senhor escreve para diversos jornais e revistas de alcance nacional. Em que momento da vida se descobriu escritor?
Dom Murilo – Costumo lembrar que há aqueles que escrevem sob inspiração; eu escrevo “por transpiração” – isto é, porque há necessidade de escrever e o texto deve ficar pronto até tal dia, custe o que custar. Antes de ser bispo, escrevia pouco. Uma vez nomeado Bispo Auxiliar de Florianópolis, foi-me oferecido um espaço semanal, aos domingos, no maior jornal de Santa Catarina. Achei que era uma excelente ocasião para atingir, com a mensagem do Evangelho, pessoas com as quais eu não iria me encontrar facilmente. Pelas reações dos leitores, percebi que tal espaço era muito mais importante do que eu imaginara. Assim, quando fui nomeado para outras Dioceses, continuei escrevendo. Em Maringá, por exemplo, devia escrever semanalmente para dois jornais – portanto, dois artigos por semana, uma vez que cada diário queria um artigo original. Ora, escrever é um treino: quando mais se escreve, mais se tem facilidade de escrever. Depois, foram surgindo convites de uma revista, de outra, e fui aceitando…
São Salvador – No livro Se eu tivesse uma câmera digital…, o senhor nos surpreende com reflexões que parecem meditações, momentos de oração. A inspiração desse livro surgiu da sua vida de oração?
Dom Murilo - Ao escrever, o escritor se revela: revela seus pensamentos, suas crenças, suas convicções, seus valores etc. Por isso mesmo, nunca pensei escrever um diário ou uma autobiografia: em meus textos está uma síntese do que acredito, do meu modo de ver o mundo, a Igreja, Jesus Cristo, etc. Naturalmente, em meus textos está muito do que rezo, do que peço a Deus, de como gostaria que o mundo fosse.
São Salvador – De que maneira podemos aproveitar o cotidiano como ocasião para oração?
Dom Murilo – Quando jovem, não aceitava o que, por vezes, ouvia de um ou outro celebrante, que resumo assim: “Você agora está na igreja. Você vai participar da Missa. Esqueça seus problemas e se concentre no sacrifício de Cristo.” Eu me perguntava: como me esquecer do que está me preocupando? Como deixar “lá fora” a prova que farei amanhã? E como uma mãe vai deixar de pensar no filhinho doente que ficou em casa?” Fui aprendendo, aos poucos, que quando nos aproximamos de Deus, devemos levar para aquele momento de oração a nossa vida, a nossa verdade, nossas preocupações e alegrias – enfim, tudo aquilo que é importante para nós. Nossa vida se torna, então, nossa oferta. A seguir, fica mais fácil – e enriquecedor – escutar o Senhor e lhe responder.
São Salvador – Uma curiosidade: o senhor é responsável por uma Arquidiocese e tem sempre a agenda cheia de compromissos. Como encontra tempo para escrever?
Dom Murilo - Se eu não tivesse assumido compromissos com determinados jornais ou revistas, nunca escreveria. Afinal, a maioria de meus textos são escritos sob pressão (“Tal artigo tem que ficar pronto hoje à noite…”) ou por cobrança (“O senhor ainda não me mandou o artigo desta semana!…”). Assim, se em cada artigo fosse aparecer o horário que em que foi escrito, muitos me perguntariam se troco o dia pela noite… Por isso, não acredito naqueles que dizem: “Quando eu me aposentar, vou escrever tal livro”. Se a pessoa não desenvolveu o hábito de escrever, nunca vai escrever. Melhor: começará a escrever “na semana que vem”…
Enfim, escrevo porque descobri que essa é uma das formas de evangelizar. Ao escrever, procuro seguir um dos princípios da comunicação: “Nunca diga de forma difícil e complicada o que pode ser dito de forma simples.” Talvez nem sempre eu consiga isso, mas que me esforço, me esforço…
Fonte: Arquidiocese de Salvador
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