Oração na Cidade
São 13h10 de quinta-feira e, na capela do Centro Comercial das Amoreiras, um dos mais carismáticos espaços de Lisboa, um cartaz anuncia à porta a Oração na Cidade. Entramos e somos recebidos por uma música calma, que propõe o silêncio e leva à reflexão. Sentamo-nos e somos absorvidos pela atmosfera que nos envolve, enquanto a Isabel lê a leitura do salmo do dia.Escutamos em silêncio, olhando para o papel que nos foi entregue à porta, e os olhos saltam de imediato para as pistas de oração que são colocadas a todos quantos se deslocam ali para rezar. Cortando o silêncio, a Isabel vai enumerando as pistas, enquanto a música nos conduz pelos recantos mais profundos do nosso espírito. Lá fora, uma multidão de gente apressa-se com sacos de compras, telemóvel ao ouvido e a cabeça a mil, a pensar em tudo o que tem para fazer. Mas dentro da capela não há tempo, pressa ou telemóvel que incomode. São 20 minutos, que concluem às 13h30 com um Pai Nosso. Lentamente, no final da oração, as cerca de 15 pessoas que estavam presentes saem, ao seu ritmo, e retomam a sua vida normal.
Este projeto da Oração na Cidade é uma iniciativa das Comunidades de Vida Cristã, ou CVX, que asseguram, desde maio de 2012, um espaço de 20 minutos de oração semanal para todos os interessados em quebrar a rotina apressada do seu quotidiano e dedicar um tempo à oração.
Inicialmente no Campo Pequeno, na capela das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, a Oração na Cidade reúne, em média, 10 a 20 pessoas todas as semanas. Em outubro, depois de um processo de discernimento e de um período de meses em que asseguraram os dois locais, deu-se a mudança definitiva de dia (passou de quarta-feira para quinta-feira) e de local. «Quando decidimos começar nas Amoreiras, fizemos nos dois sítios e vimos que as Amoreiras tinha mais adesão do que o Campo Pequeno. Nas Amoreiras passa muita gente, trabalha muita gente, e por isso é diferente do Campo Pequeno, onde as pessoas tinham de se deslocar de propósito para o espaço», diz João Cordovil, responsável da equipa regional sul, onde surgiu este projeto.
Foi em 2010 que o grupo a que pertence Isabel Diz pensou numa «forma de fazer algo para a comunidade» de Lisboa em que estão inseridos. «Escrevemos um mail a propor um espaço de oração na cidade, e pensámos logo nas Amoreiras, porque é um espaço de passagem de muita gente, e este seria um serviço à Igreja na cidade, não é para os membros da CVX», conta Isabel. No entanto, o local escolhido pela equipa regional, que abraçou o projeto, foi a capela das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria.
Ana Melo, que era a responsável naquela altura, conta como foi iniciar algo completamente novo no panorama religioso em Portugal. «O projeto esteve no Campo Pequeno cerca de dois anos e era preparado por vários grupos, que preparavam semanalmente. Tínhamos uma média de 10 a 20 pessoas, com alguns dias com 40 e outros dias com menos do que isso. Nunca nos preocupámos com o número, porque bastava uma pessoa estar, mas passados cerca de dois anos estivemos a pensar sobre isso e achámos que era altura de mudar, porque o objetivo de ir ao encontro dos outros não estava a ser cumprido. Começámos a pensar no porquê, se era do local, do formato de oração, do espaço, da hora (escolhemos a hora de almoço por não haver na cidade de Lisboa grandes ofertas), e resolvemos passar para as Amoreiras», conta a antiga responsável.
Mais divulgação e trabalho em rede
A proposta do grupo é simples, mas não parece chamar muita gente. «Há um aspeto que não temos trabalhado e que queremos dinamizar mais agora com a mudança para as Amoreiras, que é a divulgação. Neste momento, as pessoas apenas sabem que há oração na hora em que começa, quando colocamos um pequeno cartaz no corredor a anunciar. Mas queremos aumentar o tamanho do cartaz e fazer outra divulgação», explica Isabel Diz. O horário, esse, foi também pensado. «Marcámos para as 13h10 porque as pessoas saem às 13h00 e têm tempo de chegar lá. Depois, termina às 13h30, e dá às pessoas 30 minutos para irem almoçar, o que ali nas Amoreiras é tempo suficiente», diz João Cordovil, ao que Isabel acrescenta que «mais, as pessoas não têm tempo, e menos, não se consegue parar o suficiente».
Rita Ferreira foi uma das pessoas que "beneficiou" da troca de local da Oração na Cidade e se tornou uma "cliente habitual". «Eu já costumava frequentar a capela das Amoreiras, pois trabalho aqui numa das torres, e entretanto começaram a fazer esta oração aqui e eu gosto muito», explica-nos, à saída da oração semanal. «Este momento de reflexão e silêncio é muito útil para toda a gente. Ajuda-me muito no meu dia-a-dia. Vários dos panfletos que eles distribuem guardo-os, porque têm pontos-chave que me tocam e que me levam a servir melhor a Deus», conta esta trabalhadora nas Amoreiras, que aproveita a hora de almoço para rezar e parar um pouco da «correria contínua» que é a vida de cada pessoa numa cidade como Lisboa.
Foi exatamente para estas pessoas que a comunidade CVX decidiu criar este projeto. «Queremos ser facilitadores do encontro com Deus», diz Ana Melo, e por isso defende que seria útil e enriquecedor que outros grupos e movimentos pudessem assegurar outros dias da semana. «Quanto mais carismas diferentes tivéssemos a assegurar as orações, mais rica seria a oração. E seria bem mais fácil para as pessoas poderem participar, porque sabiam que todos os dias havia oração, não precisavam de programar a sua vida para irem à quinta-feira», afirma.
Quando iniciaram o projeto no Campo Pequeno, contactaram alguns grupos que, apesar de apoiarem a ideia, não conseguiam garantir mais nenhum dia. Agora, com a mudança para as Amoreiras, e considerando o muito maior número de pessoas que por ali passa e trabalha, tudo é possível. «Estamos a afinar um modelo que vai mais ao encontro das pessoas, pelo local e pelo formato, e agora vamos relançar o projeto e ver como corre», até porque, defende Ana Melo, «nós tivemos uma ideia, mas agora precisamos que Deus a venha confirmar e concretizar de uma forma que até pode ser diferente da que tínhamos previsto», sustenta.
No que diz respeito ao público-alvo, todos são bem-vindos. «Isto é para a cidade. O sonho é apanhar uma ou outra pessoa que não está nem aí para a oração, mas que entra por curiosidade, está na oração e se deixa tocar de alguma forma», argumenta Isabel Diz. João Cordovil, por seu lado, explica que este é um projeto também para «quem se "fartou" das orações tradicionais e precisa de uma nova proposta», enquanto Ana Melo entende que «a Oração na Cidade é um instrumento e é para quem Deus quiser, porque sabemos que em pequenos encontros e imprevistos a nossa vida pode mudar. Não temos uma ambição específica, deixamos que o Espírito conduza», conclui.
Esquema de oração
A Oração na Cidade baseia-se na liturgia do dia, tem a duração de 20 minutos e propõe o seguinte esquema de reflexão:
– Leitura do Dia
– Três pistas de oração: a primeira pista é o que é que eu tenho a agradecer a Deus que esteja relacionado com o texto; depois, olho para mim e, relacionado com o texto, procuro saber o que é que é um obstáculo em mim para fazer a vontade de Deus que está naquele texto; finalmente, uma pista que é comum em todas a orações, que é o que é que o Senhor me disse neste tempo de oração, e que propósitos levo para a semana, e deixar que esses propósitos façam eco no meu coração.
– Pai Nosso
Fonte: Aleteia
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